
Foram palavras que ouvi de alguém em praça pública, ditas através de um megafone, caso algum ouvinte alegasse surdez.
O amor não é incondicional.
O amor não suporta mais ausências.
Não suporta mais chorar em vão.
Não suporta mais chantagens.
Não suporta sofrer tanta concessão, tanto ceder.
O amor não suporta mais ser sublimado.
Não suporta mais ser magoado, não ver, mostrar-se ignorante, alheio.
O amor não suporta mais relevar.
O amor não suporta mais fingir que perdoa.
Tudo sempre jogado em seus ombros, em nome de um amor que não o dele.
O amor não suporta mais tamanho fardo.
Sempre excedendo em tanto e em tudo…
E para subestimá-lo, ignorando sua angústia, sua aspiração à liberdade de pensar, agir e falar, rotulam-no de incondicional.
E assim, o amor sofre calado.
Pressionado.
Reprimido.
Massacrado debaixo da condição de ser incondicional.
O amor sempre estará condicionado a algo, a alguém, a um gesto, uma ação; a um sorriso, uma palavra, um carinho; a um silêncio mesmo que sem perdão.
E na possibilidade de encontrar-se mesmo ausente de tudo, estará condicionado ao tempo, ao vento, ao alento.
Mesmo que ao relento.