Archive for junho \28\UTC 2010
a música…
o poema inacabado
teus olhos me observam
sabem de coisas que tu mesmo não sabes
indagam-me a razão do pranto doído
que rola quieto
Tentam arrancar de minha boca uma palavra
um som
um murmúrio
Silencio
Fito também os olhos teus
A música…ouves?
hoje é dia de saudade
É Preciso
Posted in Cristais, tagged essência, penalidade, tempo on 24/06/2010| 1 Comment »
Ser olhado com carinho
é preciso
Se retido nas mãos
com cuidado
Se guardado no coração
com ternura
Se pela primeira vez
poderá ser a última
Se tocado novamente
diferente será
mesmo que num segundo depois
Com significado profundo
acentuado
apresentar-se-á
Se recordado
que se envolva
com cuidado
Só assim
reencontrado
apresentará seu perfume
É preciso doçura
com os momentos da vida
é preciso, é preciso
Os que maltratam o tempo
e seus habitantes
não passarão impunes
Pequena e alva flor que, assoprando-a, espalha-se em minúsculas pétalas a voarem para o sol, como risos, numa silenciosa alegria interior.
Quando pequena, dizia que eram feitas de minúsculos paraquedas a levarem sementes, luz e vida pelo ar.
Em meu jardim há vários botões e todos os dias um se abre.
Dei a ela o teu nome.
Caule esguio e alto, trazendo no cume sua fragilidade.
Para que não a fira ao mínimo gesto é necessário delicadeza, cuidado, carinho.
Senti-la em meu rosto é como receber uma carícia de tua barba por fazer ou um beijo suave e terno, como o sol outonal de um domingo de manhã.
Às vezes é preciso que se suspenda a respiração para que não a contamine com o hálito da imperfeição dos imperfeitos.
Mas aqui no meu jardim ela não corre perigo algum, tal como você em minha vida.
“O mundo é tão bonito e eu tenho tanta pena de morrer”
Posted in Geral, tagged eterno, José Saramago, vital on 18/06/2010| 4 Comments »
Dói-me a alma, meus olhos fecham-se, perco a voz e tranco-me em minha tristeza.
Um pouco mais órfã, um pouco mais só.
Ah! quanta falta sentirei de ti.
Quantas noites insones me fizeste companhia.
Quantas coisas me contaste e tantas outras criaste em minha imaginação, partindo de tuas sutilezas e também da tua ironia.
Quanto acrescentaste em minha vida, quanto!, enquanto tomava da tua literatura, do teu estilo por tantas vezes criticado de passar teu sentimento como algo lógico, frio.
Quantas conversas travei junto a meu irmão caçula, discutindo tua linha de pensamento, tua forma de ver e sentir as coisas, as pessoas, o tempo.
Abraço este teu livro neste instante, como se o fizesse a ti, como se fosse de ti meus braços, além destas lágrimas que teimam em não parar de rolar, porque o amor que tenho por ti é tão antigo, é tão forte, é tão vital.
Quem me fará sonhar, quem me desafiará o raciocínio, quem me fará rir como criança, quem me enternecerá o coração…
Ouço tua voz firme, traduzindo pensamentos rápidos, mas ao mesmo tempo branda e tranquila, própria de quem é sábio, de quem vive todos os momentos oferecidos pelos ventos e pelas calmarias.
Lembro-me de teus olhos pequenos mas alcançando grandes distâncias, voos infinitos, como a se preparar para a tua transformação de estar em ser.
Eternamente.
Permanência
Posted in Cristais, tagged amor, eterno, primavera, rosa on 17/06/2010| Leave a Comment »
Chegaste em mim em plena primavera
embora fosse outono
Me entreguei ao teu calor ensolarado
embora chovesse
Me ensinaste a sorrir tão suave
embora conciso
Me colheste uma rosa, a mais bela do jardim
embora com espinhos
Nem por isso perguntei, em momento algum
o que vieste fazer em minha vida
porque és eterno
Penalidade Máxima!!!
Posted in Geral, tagged educação, euforia, gentileza, tristeza, voluntariado on 14/06/2010| Leave a Comment »

Outro rapaz desenha e pinta, no meio da rua, as caricaturas dos jogadores mais famosos. Pergunto se ele conhece alguma técnica, desenha tão bem! Não, não conheço, diz ele; é um dom a serviço dos outros. Me animei. Pergunto se ensina, se faz alguma atividade voluntária. Só na copa, moça, ou em decisões finais de campeonatos. Entristeço-me. Ando muito sensível, entristeço-me à toa.
Vejo o cuidado com que pintam a rua, a gentileza com que pedem aos motoristas para que desviem seus carros das pinturas… Fico feliz, moça, fico eufórica em estar cooperando, diz uma garota. Entristeço-me ainda mais. Há tanto o que fazer, modificar…
Fico imaginando toda essa energia pairando no ar, onde tudo o que querem realiza-se, basta que queiram. A vontade é a senhora das realizações, não é assim? Fico imaginando todos eles reunidos, ajudando a pintar uma escola, a jogar o lixo nas latas ao invés de sujar as ruas, a doar um agasalho, um prato de sopa, um pedaço de pão. Fico imaginando-os gentis no trânsito, em casa com seus familiares, tratando com educação os porteiros e moradores de seus prédios, desejando um bom dia a seus colegas de trabalho, em qualquer ambiente que seja, no dia a dia. Fico imaginando… já sei, já sei! Estou sonhando, ou melhor, delirando; melhor ainda, estou em grave estado febril. Perdoem-me esta alucinação momentânea.
Vou tomar um comprimido na farmácia e depois achar uma loja para comprar uma vuvuzela bem potente, para fazer muito barulho. Quem sabe assim esqueço-me do potencial que habita cada ser humano e que está sendo jogado no lixo, a cada dia, a cada instante, por ele mesmo, quando se fecha, se tranca e vive só para si. E quando se comunica com o exterior, geralmente o faz da forma mais agressiva ou irônica ou prepotente.
Paro no meio fio da calçada para descansar um pouco, constatando mais uma vez do quanto podemos e pouco fazemos… Dá licença, moça, preciso pintar aí; será que você me faz o favor de mudar de lugar? A educação, a confraternização da copa… ou seja, a mesma do Natal, a mesma do final de ano: gentileza com data marcada.
A cidadania está para bater um penalti mas já sabemos o resultado.
Alguém de sabedoria secular disse uma vez que o resultado do que fazemos nos espera mais adiante.