Archive for setembro \30\America/Sao_Paulo 2010
Bilhetes
Posted in Recortes, tagged amor, banco de lâmpadas, bilhetes, marcas do tempo on 30/09/2010| 1 Comment »
Às Vezes
Posted in Geral, tagged ganhar, perder on 27/09/2010| Leave a Comment »
23 de Setembro
Posted in Geral, tagged nos bosques, Pablo Neruda, poeta on 23/09/2010| 1 Comment »
Se eu disser que dia 23 de Setembro homenageia-se Ricardo Eliócer Neftalí Reyes Basoalto, na certa alguns me perguntarão de quem se trata.
Mas se eu disser que nesta data é lembrada a morte de Pablo Neruda, todos saberão de quem falo.
Nobel da Literatura em 1971, desenhou seu último voo no espaço em 1973, devido a um câncer, encontrando eu em vários compêndios que Neruda morreu de “tristeza” ao ver dissolvido o governo de Allende.
Rendo-me neste e em todos os instantes de ternura ao seu encantamento, que transbordará para sempre das palavras que ele utilizou para eternizar sua expressão de amor, de saudade, de carinho, de busca, toda a sua lírica.
Deixo aqui um dentre tantos poemas de minha predileção, imaginando-o a declamar:
Nos Bosques, Perdido
Nos bosques, perdido, cortei um ramo escuro
E aos lábios, sedento, levante seu sussurro:
era talvez a voz da chuva chorando,
um sino quebrado ou um coração partido.
Algo que de tão longe me parecia
oculto gravemente, coberto pela terra,
um gruto ensurdecido por imensos outonos,
pela entreaberta e úmida treva das folhas.
Porém ali, despertando dos sonhos do bosque,
o ramo de avelã cantou sob minha boca
E seu odor errante subiu para o meu entendimento
como se, repentinamente, estivessem me procurando as raízes
que abandonei, a terra perdida com minha infância,
e parei ferido pelo aroma errante.
Não o quero, amada.
Para que nada nos prenda
para que não nos una nada.
Nem a palavra que perfumou tua boca
nem o que não disseram as palavras.
Nem a festa de amor que não tivemos
nem teus soluços junto à janela…
Pablo Neruda
Senhoras do Tempo
Posted in Cristais, tagged árvore, senhoras do tempo on 21/09/2010| Leave a Comment »
Árvores
senhoras imponentes do
tempo
pés no chão
cabelos ao vento
Como se não bastasse
tamanha majestade
ainda cantam
ainda dançam
ainda são generosas
em sombras e frescor
em frutos e ninhos
em encontros e sonhos
Por isso
senhoras do tempo
Procuro-te
como se nunca o tivesse visto
e surpresa
vejo que és como sempre te guardei
em mim
Teus olhos falam
com a voz que sempre escuto
quando a vida me surpreende
com uma bússola
Das tuas palavras
sorvo a sabedoria
de saberes grande em mim
embora te mostres pequeno
Tuas mãos como que distraídas
contam segredos
rasgam cortinas
para me encontrar
escondida atrás de ti
Revés II
Posted in Recortes, tagged criança, dom, homens excitados, mulheres grávidas, prostitutas on 14/09/2010| Leave a Comment »
Nascera com esse dom.
Foi com a mãe visitar a vizinha, para ajudar a tricotar o enxovalzinho dos bebês que estavam por vir.
Mal chegou e vendo aquela barriga imensa, começou a rir e a dizer Mamãe, dona Matilde engoliu minha bola, aquela que sumiu ontem lá do quintal.
A mãe, meio sem jeito, explicou que ali dormiam dois bebês que logo logo iriam acordar.
A criança pediu para colocar suas mãozinhas delicadas de cinco anos de idade na barriga da futura mamãe, o que foi atendida de imediato.
Foi então que, com as mãos no ventre, seus cabelos começaram a se eriçar, tornando-se uma imensa cabeleira loura, o que deixou todos os presentes alarmados, surpresos, diria até que temerosos…
No instante seguinte nova transformação: os cabelos começaram a desarmar à medida que se encaracolavam, como cabelos de anjos barrocos.
E, como se não bastasse, novo susto: a feição da criança foi se modificando, os olhos de cor de avelã passaram a verdes, o rosto afilado, um brilho intenso nos olhos e uma expressão meio cínica nos lábios, diga-se de passagem, nada normal que se possa perceber no rosto de uma criança.
No outro instante, tudo se normalizou como num passe de mágica, como se nada houvera.
E a criança parecendo divertir-se disse Mamãe, são dois meninos! Como assim, meu bem!?! É, são dois meninos de cabelos enrolados e olhos claros; um é bom e o outro mais ou menos.
O que aconteceu com a futura mamãe não vem agora ao caso, mas quando as crianças nasceram eram tal e qual havia descrito a criança.
Foi esta a sua primeira manifestação.
A partir desse dia formou-se uma fila interminável de mulheres grávidas à sua porta e como a família passava por dificuldades financeiras, o pai, tesoureiro na empresa em que trabalhava, resolveu contabilizar as visitas.
Às vezes quando estava indo à escola e via uma mulher grávida, atravessava a rua correndo e, colocando as mãos na barriga dela, fazia sua previsão; tudo escondido do pai porque havia muitas mulheres pobres naquela cidade.
O tempo foi passando, a criança crescendo, simples, delicada, doce, até que um dia tornou-se uma moça muito bonita e inteligente; digamos que um pouco diferente das demais, pois à medida que o tempo passava ia aprimorando seu dom, capaz de manifestá-lo já nos primeiros meses de qualquer gravidez, ou melhor, nas primeiras semanas, como fazem os cálculos os médicos.
Num dia de outono perdeu seus pais.
Num dia de inverno enviuvou sem chegar a ter filhos.
Num dia de primavera foi morar com a irmã que havia tido um belo menino.
Ajudando-a a banhar o garoto e resvalando naquele pênis tão pequeno que mais parecia um dedinho de criança, seu dom se manifestou de forma diferente; agora retratava em seu rosto não só o lado físico do garoto, mas sua personalidade, trazendo à tona alguma passagem importante do seu futuro.
A irmã, vislumbrando uma situação ainda mais promissora, resolveu alardear e contabilizar, como o pai, aquela nova inspiração, não se importando com o que vira no rosto da irmã.
A fila interminável de homens que se formou à porta da casa era maior que a de mulheres; tão grande, que foi obrigada a dar uma assessoria à irmã, que já não estava dando conta do recado sozinha; na verdade debatia-se todos os dias, quase que o dia inteiro, naquele mar leitoso e caudaloso que a cercava.
E foi assim que as duas, por pura incompetência administrativa, prostituíram-se.
Marcas do Tempo
Posted in Cristais, tagged única, marcas do tempo on 11/09/2010| 2 Comments »