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Posts Tagged ‘devaneio’

 

 

 

 

Gosto de livros novos.

Claro é que se os tenho, foram escolhidos e adquiridos depois de muita observância e prazer.

Gosto de livros novos.

Executo um ritual toda vez que tenho um em minhas mãos.

E, interessante, percebi que esse ritual não acontece em livrarias, somente quando estamos eu e a obra; já tentei, chego até o meio do caminho, mas não existe intimidade suficiente no ambiente para que possamos nos apresentar.

Aprecio a arte gráfica da capa, cores, imagens, título, altos e baixos relevos.

Leio as orelhas do livro para saber do que se trata, a biografia do autor e em seguida, a contra capa.

Aí então chega o momento que mais gosto (antes de ler, é claro).

Abro o livro em qualquer página e cheiro-o profundamente.

Profundamente… como se assim pudesse colher em mim todo o seu conteúdo e, quando o estiver lendo, apenas estarei tomando conhecimento do que dentro de mim já está; é a tinta, o papel e também um pouco do perfume da alma de seu  autor o que me embriagam tanto.

Assim permaneço por alguns instantes, olhos fechados, deixando-me invadir pelas sensações para depois, com lucidez, saborear as palavras.

Sorrio com elas, choro com elas, me emociono com elas, durmo com elas.

Às vezes sonho, às vezes me assusto com elas.

Mas é certo que, novo ou velho, quando estou lendo um livro, abraço-o como se a um grande amor.

Talvez, um dia, alguém possa ler as anotações que costumo fazer nas margens desses livros e assim saiba que aquelas palavras foram importantes para alguém que redescobriu emoções adormecidas através das emoções de outras pessoas humanamente sensíveis e inspiradoras.

Livros, meus mestres silenciosos, mas que me falam tanto à alma.

 

 

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Tudo que vejo à distância parece-me bonito.

Mágico.

Como agora.

Vejo o dia findar nesse tempo marcado por relógios silenciosos.

O sol a despedir-se deste lado do planeta, o das pessoas que não se acham mais, deixa no espaço seu rastro rosa, suave de início, mais forte à medida que se esconde atrás de meus olhos.

E a cidade aos poucos vai se iluminando como se fosse uma imensa árvore de estrelas, como se uma porção delas tivesse caído do céu de uma só vez.

Uma torre se acende, como um indicador divino apontando para coisas do tempo que ainda não sou capaz de enxergar.

Os holofotes do helicóptero que voa sua urgência parecem-me anjos de luz a procurar pelo espaço anjos perdidos.

Entrego-me às sensações, ao perfume que a noite vem trazendo na ponta de seus dedos, distribuindo-o entre as flores do meu pequeno jardim.

Em cada estrela dessa imensa árvore, por trás de cada luz existe pelo menos uma vida, diz meu coração num pulsar esperançoso.

Quem sabe um sonho.

Quem sabe uma brincadeira de criança.

Quem sabe um sono de sonhos.

Quem sabe o aconchego de um abraço.

Quem sabe um doce e ardente beijo.

Quem sabe um poema de amor.

Quem sabe alguém que desesperadamente acredite como eu que, apesar de tantos desatinos irracionais disseminados milimetricamente entre seres racionais,  ainda haja uma chance para recomeçar.

Como o sol que amanhecerá.

Ele sempre retorna.

Somos nós que em dias amargos não conseguimos enxergá-lo, mas ele está lá, sempre estará.

Majestoso e vivo!

 

Quando o devaneio devolve-me à Terra, a noite já se mostra profunda e estranhamente quieta.

Vejo então, acima de minha cabeça, uma lua linda a me sorrir, invadindo e acalentando  esta minha alma.

Cheia e luminosa.

Mágica!

Como agora.

 

 

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Um dia, depois da chuva, encontrei você no meu jardim.

A princípio olhamo-nos desconfiados, você com medo de mim, eu com medo de você.

Fiz menção em me aproximar e você recuou.

Eu tinha certeza que a qualquer momento você pularia em mim.

Por isso, entrei correndo para dentro de casa.

Fiquei espiando você da janela, atrás do vidro.

Você, imóvel, só me olhava com aqueles olhos de jabuticaba.

Tomei coragem e voltei para o jardim.

Desta vez você não se afastou.

Abaixei-me e continuamos a nos olhar.

Abaixei-me ainda mais e coloquei minha mão esquerda estendida à sua frente, com a palma para cima, para mostrar-lhe que não trazia nada que pudesse feri-lo.

E você entendeu que eu estava completamente desarmada.

Então você pulou na minha mão e eu pude trazê-lo bem perto do meu rosto.

Mostrando que na outra mão também não havia nada de ameaçador, ousei um carinho.

E você gostou.

Olhei para um lado, olhei para outro.

Ninguém à vista.

Dei-lhe um beijo.

Não foi tão rápido, mas também não muito molhado.

Foi um toque sutil, um toque que traz memória.

Você continuou sapo.

Eu continuei menina.

E hoje somos o que somos.

Até aprendi a coaxar.

 

 

Fiz esta redação escolar aos 14 anos de idade, deixando as freiras do colégio preocupadas, ao mesmo tempo que surpresas.

Relendo-a constato que já àquela época sentia-me desiludida por não encontrar o príncipe dos meus devaneios.

Depois de tanto tempo ele deve ter passado pelo meu caminho, mas não pelos meus olhos porque, com receio de me despertar, seguiu para as suas lutas e conquistas.

Talvez tenha preferido permanecer apenas como um sonho em minha vida.

Se alguém encontrá-lo diga-lhe que continuo completamente desarmada e ainda adormecida, esperando por um beijo doce e demorado.

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